segunda-feira, 27 de julho de 2015

Chuva


Olho pela janela e não sinto saudades, somente angústia.
A angústia que sempre morará comigo
A angústia maravilhosa.
Desenho um mundo por cima deste
Como as nuvens que nos sobrevoam
Sobre mim flutua essa vida
Repleta de sonhos impossíveis
Olho pela janela e a chuva
Que molha as casas molha a minha pele
Nessa alta onde habito. Sem ela
A cá de baixo seria o deserto
Sem a sombra e a chuva das encantadas
A minha jornada seria sem água.
Assim, quando estou cansada olho para cima
E imagino as formas do meu céu desenhado
O meu céu apaixonado e vejo
Eu vejo, eu vejo, eu vejo,
Inexplicavelmente vejo e sinto amor
Pelo belo
O impossível
O distorcido o surreal
Tenho uma tangerina na secretária, poderia passar o dia a amá-la.
A sua casca cheirosa, a folha verde,
Ontem fui comprar cerejas, eram negras como a noite.
No caminho vi a fonte e molhei os pés e os reflexos
levaram-me em viagens para o mar
Depois tentei recordar todos os olhares
e lá em cima as minhas nuvens crescendo
crescendo
crescendo
as emoções evaporadas.
E depois choveu.
Mansamente
Cá em baixo.
Os meus campos verdes.
Vão viver mais amanhã.


sexta-feira, 3 de julho de 2015

Portugal


Beldroegas, massacote, feijão-verde, snack-bar, entremeada, marmelada, figueira, laranja (do Algarve!), merenda, amolador, vinho verde, vinho à pressão, meio jarrinho?, linguiça, padaria, torresmos, pão de torresmos, papo-seco, broa, codornizes, amêijoa, lamejinha, lapa, conquilha, berbigão, salmonete, coentro-espigado, hortelã, caracóis, alcagoitas, rissolinho, pastelinho de bacalhau, carapauzinhos fritos com arroz de tomate, ai estão bons, atão vizinha, havia eu de servir se não estivessem bons, lagar, vagar, vinha, canário, tremoço, alguidar, alcofa, morcela, carqueja, traquitana, anedota, maré, que às oito vaza, para apanhar mexilhão, digestão, calhauzinhos, cal, sombra, cortiça, arrozal, salina, alforreca, cegonha, andorinha, gaivota, moliceiro, falua, barca, barcaça, barco, barco, barcos atracados nos cabelos, corações que são âncoras enterradas aqui, no lodo dos estuários e das comportas, ferro fundido em areia, cordas que jamais serão içadas, nem depois dos dias e destas todas palavras.

Conversa


ela: Olha no outro dia disse, vamos lá, e fomos! Nem te digo nem te conto. Para entrada pedimos camarão de Espinho. É que é melhor que o de Espinho! Cheios de ovas. Depois sabes o que é que pedi para acompanhar? Um copo de vinho branco, sabes o que é que me serviram? D. Ermelinda, reserva. Sabia a amêndoas. É assim que gosto dos vinhos, secos, a saber a amêndoas. E as gambas? À guilho. Gordas... Estalavam na boca! Tudo bom!
ele: até os tremoços eram bons!