sexta-feira, 2 de outubro de 2015

últimos dias. "Último? Não digas último!". Mas como não se todos os dias são últimos, se todos os minutos são últimos?




"Em cada noite morro, em cada, dia renasço."

E chega a hora do fim da data acordada. O tempo das listas do que não se fez, o museu de arte aplicada que foi desenhado por Odon Lechner, o cemitério, os banhos de Margaret, as praias escondidas das margens do Danúbio, o restaurante onde não chegámos a ir, o camping prometido em Kisorosi e uma noite de guitarras e banhos nocturnos em Palatinus, que combinámos com tanta gente, as aulas de guitarra que ficam a meio, as gravações na casa do António, os sabores de gelado caseiro que ainda não provámos, a comida no congelador que é para acabar, os concertos que ficaram por ver, as listas de nomes com quem temos de combinar café. E é assim o fim das coisas, listas e listas de lugares e pessoas maravilhosas a quem queremos agradecer.

E é isto que é viciante em viver fora, este encher e esvaziar malas, estas vidas em parágrafo, estes fins que não são mais que mortes. Viver fora é colocar muitos pontos finais, é morrer várias vezes, morrer com alegria e com saúde, morrer com a alma cheia de sorrisos. O fim: esse sabor fantástico que têm os pôr-do-sol e as últimas colheres de gelado. Viver fora é ser viciado em despedidas, em abraços nos aeroportos, em tirar fotografias. Viver fora é celebrar onde se está, celebrar hoje porque amanhã não dá, e a vida deve ser assim todos os dias, mas é fácil esquecer quando não há estações nem calendários nem bilhetes de partida. 

É assim que se vivem os últimos dias. "Último? Não digas último!". Mas como não se todos os dias são últimos, se todos os minutos são últimos? É isso que me acorda, é isso que me faz
Viver
Fazer
Urgentemente.