"Em cada noite morro, em cada, dia renasço."
E chega a hora do fim da data acordada. O tempo das listas do que não se fez, o museu de arte aplicada que foi desenhado por Odon Lechner, o cemitério, os banhos de Margaret, as praias escondidas das margens do Danúbio, o restaurante onde não chegámos a ir, o camping prometido em Kisorosi e uma noite de guitarras e banhos nocturnos em Palatinus, que combinámos com tanta gente, as aulas de guitarra que ficam a meio, as gravações na casa do António, os sabores de gelado caseiro que ainda não provámos, a comida no congelador que é para acabar, os concertos que ficaram por ver, as listas de nomes com quem temos de combinar café. E é assim o fim das coisas, listas e listas de lugares e pessoas maravilhosas a quem queremos agradecer.
E é isto que é viciante em viver fora, este encher e esvaziar malas, estas vidas em parágrafo, estes fins que não são mais que mortes. Viver fora é colocar muitos pontos finais, é morrer várias vezes, morrer com alegria e com saúde, morrer com a alma cheia de sorrisos. O fim: esse sabor fantástico que têm os pôr-do-sol e as últimas colheres de gelado. Viver fora é ser viciado em despedidas, em abraços nos aeroportos, em tirar fotografias. Viver fora é celebrar onde se está, celebrar hoje porque amanhã não dá, e a vida deve ser assim todos os dias, mas é fácil esquecer quando não há estações nem calendários nem bilhetes de partida.
É assim que se vivem os últimos dias. "Último? Não digas último!". Mas como não se todos os dias são últimos, se todos os minutos são últimos? É isso que me acorda, é isso que me faz
Viver
Fazer
Urgentemente.