domingo, 2 de abril de 2017

Declaração de amor aos lugares do Norte


Para se entender os Bálticos, tal como para se entender a Escandinávia, é preciso viver cá. É preciso viver todas estas incongruências, o longo inverno, a ausência e a noite, para entender porque nos apaixonamos. Na verdade, nunca se chega a entender. Porque talvez a lógica não exista. Eu acho que é sempre preciso ver a moeda com os seus dois lados: um lado que se sacrifica e outro que se ganha, um não vive sem o outro. Aqui, é o frio que dá.  É preciso o frio para ter o conforto da casa, o tempo para nós, a serenidade e as artes. Não viesse o frio e não tínhamos isso. É preciso o frio para a alegria infinita dos primeiros raios de sol. Hoje fazem 15 graus e vamos pela primeira vez à esplanada. É Abril. Lembro-me de, pelos meus anos, em Abril, já se poder ir a banhos. Aqui é somente tempo de plantar flores no jardim e de ver os rebentos tímidos tentar a sua sorte nas árvores ainda nuas. Aqui agradece-se todos os dias, e todos os dias são bons, e eu pergunto-me porque me sinto tão feliz, se nada realmente aconteceu. 

É esse o mistério dos países do norte, é esta a sua magia, as paisagens impossíveis, suspensas no tempo em que são permitidas ser, um lugar inóspito que amansa, e uma bondade que se estende sem pressas, sem percalços, sem fachadas, apenas uma felicidade imensa e a brandura.