segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O rio



O rio surge quando não se espera, como parágrafos de paz entre ruínas, surge como um fantasma, como uma neblina, como o um murmúrio, um Rio Branco sem corrente, um rio que repousa, um rio que permanece. E enquanto aqui em cima os sapatos bicudos batem nas pedras, os carris desgastados chiam sob o peso dos elétricos e dos passageiros que os sobrelotam, enquanto os desgraçados gritam pelas ruas e os chamamos loucos, enquanto os estrondos sineiros cortam o céu como machados o rio só, visto das janelas e das esquinas das paredes velhas, rasgadas por pombos sujos, os camiões peganhentos, os sacos rasgados e o rio ileso a tudo, evaporando-se, o rio espelho, rosado, o rio eterno. Antes dos homens, depois dos homens. Depois de todas as tempestades e todas as palavras, permanece, debaixo de tudo o que se desmorona, para replicar, desta cidade, somente a ondulação das roupas nos estendais.


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