segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Mosto



Hoje bebi o doce mosto.

Que vinha anunciando o fim das coisas quentes. O início das coisas frias e castanhas.
Era doce vinha das uvas. Sabia às mãos que o apanharam, às prensas que o espremeram.
Sabia adegas de pedra e carvalho, caves fundas cheias de gente cantante com tanques púrpura tingidos dos anos, alambiques de ferver bagaço.
Hoje bebi o doce mosto e lembrei-me que é hora de celebrar dentro das casas, sentados em bancos e salamandras lambendo o ar, coisas penduradas no tecto: tachos, uvas chouriças vassouras. Saudades de casa e nem sei onde é, procuro-a aqui nas caves apertadas, nas ruas e Etyek e suas adegas que se visitam porta a porta, nas conversas aconchegadas pelo espesso vinho. Estivesse eu onde estiver estarei a pensar em castanhas a rebentar seus ouriços. Estarei a pensar em folhas molhadas. Estivesse onde estiver estou a imaginar uma mesa corrida de grossas negras traves e os que amo sentados em redor. Um pão um vinho um queijo, um repertório de piadas e cantigas. 

Estejam onde estiverem, bebam o doce mosto e digam comigo: bem-vindo bem-vindo.     

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