quarta-feira, 17 de julho de 2013

O lugar da saudade


Como pode algo tão belo guardar em si a tristeza? 

Desde que cheguei que muitas vezes acordo com pesadelos. Sonho com o lugar mais belo do mundo, uma praia deserta, orlada de pinheiros a Este e conchas a Oeste, salpicando a beira do mar. Não há ondas. A luz está a meio, talvez seja de manhã, talvez seja lusco-fusco e a noite esteja a caminho, talvez seja, só vejo o céu lilás e laranja e minhas pegadas no chão. Às vezes também sonho acordar com sol forte e pinheiros na janela. De repente, apercebo-me que nunca mais poderei regressar a este lugar. É aí que entra o pânico, a melancolia, o desespero. Acordo como se o mundo estivesse prestes a acabar.

(eu sei que poderei voltar, talvez de uma forma diferente, talvez a minha praia tenha mais gente, talvez tenha outra forma, mas são as Saudades a pregar-nos partidas, temos que desculpá-las e abraçá-las -  ouvir e entender o que querem de nós)

Mas não se assustem, estou a adorar Budapeste - é curioso somente como as mudanças nos despertam os instintos.


"De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas."
Ítalo Calvino - Cidades Invisíveis


A ouvir: Uma playlist dedicada a este lugar - está aqui.


1 comentário:

  1. Eu sei que pinheiros são esses...viver no estrangeiro para mim é com ter várias vidas, sendo cada vida que tenho lá fora uma vida paralela, uma versão de mim naquele sítio...e todas são diferentes apesar de eu ser sempre a mesma. também por vezes quero voltar para casa, mas depois percebo que foi noutra vida. Mas o que me conforta mais é pensar numa frase que vi num filme ( Nowhere in africa ) :

    Nobody can take away our home, because it's a piece of land. Even if the house where it stands its destroyed, or rebuild, it still the piece of land you call home. And no matter if you moved, or how many years pass it will always be there, in the place you know.

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