Um dia acordei e não me chegava
As ruas os arcos as tardes abertas
Um dia acordei e voltei e precisar
de sonhar alto
De pensar nos dias que se seguem
A este, quente e moreno.
Esta intermitência de mim que não entendo
Este meu ser em estações
Pois é quando o sol sai alto que recolho.
E na minha cabeça habitam fotografias
Penduradas em fios de seda
Agitadas pelo vento e vejo
Amarelecidas fotografias
Que ditam o princípio e o fim de tudo
Que puxam pelos sonhos como anzóis em besugos
Fotografias à beira mar de crianças
Madeiras apodrecidas pelo lodo
Casas caiadas e cegonhas
Um dia eu acordei
E não me chegavam as pedras do chão
Precisava de continuar procurando
Por essas fotografias
Em todos os lugares do mundo
Excepto onde foram tiradas.
Um dia acordei e não sei
Se cresci, se me afundei,
Se procuro, se me perdi.
Eu sou a criança que habita a foto
Que segura as canas que a onda levou
Para com elas desenhar na areia.
Como as canas, transporta-me a corrente
Por ruas de onde o mar não vi
Mas um dia acordei, e uma voz disse
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