quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Os cântaros não têm mãos


O que faço é mais forte que o que decido.
Sou um acto maior que o que persigo.
Escavo com uma mão procurando água. 
E com a outra afasto as areias.
Sempre foi assim:
Uma mão que ganha
Uma mão que perde.

Sou saco roto não cansado de encher,
Um cântaro transbordante na fonte infinita.
Cá dentro nada mais cabe senão
Deitando fora.
E é isso que faço, deito fora.
Água pura por vezes, deito fora.
Carros e paisagens, deito fora.
Olhos e beijos,
Deito fora.
Abraços ansiados,
Deito fora.
Mãos e corpos nus, deito fora.
Jantares no forno, deito fora.
Fora!

Sou cântaro transbordante
De água puro cheio
Podia fechar a torneira mas continuo
A achar que consigo
Encher-me apenas um pouco mais.

Mas os cântaros não têm mãos.
Assim, 
as torneiras não poderão ser fechadas.

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